ADÃO, DORALICE E AS ARMAÇÕES DE PEDRINHO
Não, isso não é o título de capítulo do livro nem da novela “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. É apenas um bom título para contemplar o corolário de espertezas toscas protagonizadas pelo recém-desabado e apeado ministro dos Transportes, Pedro Novais. Antes mesmo de assumir o Ministério do Turismo, o senhorzinho maranhense, amigo de longa data do todo poderoso José Sarney, já dava demonstrações públicas de que sua gestão seria um prato cheio para quem se dispusesse a procurar lixo na Esplanada dos Ministérios.
Assim que teve o nome indicado pelo seu padrinho político, estourou, na imprensa escrita e nos telejornais, um escândalo de alcova: o ministro, baixíssimo em estatura, com seus 1,55m, estreava no coração do poder trazendo a reboque uma festa que teria dado em um motel do Maranhão. Paga com dinheiro público, claro. Até então, achava-se que nada de mais constrangedor poderia acontecer a um homem que ultrapassara os 80 anos ostentando um daqueles casamentos solidíssimos que a alta sociedade adora citar e no alto de seu sexto mandato conquistado nas urnas do Maranhão como deputado federal.
HOMINHO - Portanto, enquanto tudo pareciam águas plácidas no Governo Dilma e somente a caladíssima ministra da Cultura, Ana de Hollanda, parecia fadada ao falatório associado a quedas em médio prazo, no tempo em que os milhões de Palocci ainda não tinham vindo às manchetes, Pedro Novais já prometia que a pasta do Turismo não teria pela frente apenas o desafio de contribuir para a arrumação da Casa para receber o público da Copa. Seu maior desafio era manter-se no cargo já tendo estreado com o nome e a reputação associada a festinhas em motel bancadas pelo contribuinte. Para uma presidente dita durona, um subordinado desses deve ser um fardo e tanto. Passados sete meses, entre quedas e quedas de outros ministros cujas permanências no governo eram tidas como certas e seguras quando do começo da gestão, estoura outro escândalo nas cercanias de “Seu” Pedrinho, desta vez envolvendo a prisão de todo o primeiro escalão do seu ministério, na Operação. O hominho, no entanto, continuava ‘apregado’ na cadeira do Turismo.
Com a queda de Novais finalmente anunciada na quarta-feira, os telejornais da semana davam conta de que, nos bastidores da Presidência da República, nas negociações entre a presidente Dilma Roussef e o cacique do PMDB, o vice-presidente da República Michel Temer, a condição imposta por Dilma era a de que, pelamordedeus, lhe apresentassem um nome cuja biografia e currículo político lhe permitissem enfrentar a primeira entrevista coletiva à imprensa ao ser indicado para o posto sem ter que passar pelo constrangimento de responder perguntas sobre atos de corrupção ou ilícitos envolvendo seu nome. Os repórteres versados nas vísceras do poder e do PMDB davam conta de que essa exigência apresentada a Temer reduzia o universo de ministeriáveis a nomes contáveis nos dedos. Sim, a coisa anda tão feia no Planalto Central que não basta a garantia expressa de que o novo ministro vá ser de uma lisura ímpar no cargo. Se trouxer um saco de roupas sujas do passado, como o de Novais, o prejuízo para o governo torna-se insuportável. A sujeira do passado não resistirá a uma manchete de jornal. E o que há de ministro tentando esconder sacos e sacos de roupas sujas acumuladas nos invernos passados...
MOTEL E CHOFER - Foi a manchete da Folha de S. Paulo da última terça-feira que colocou uma pá de cal avassaladora sobre as armações do ministro Pedrinho. Durante nada menos que 7 anos, de 2003 a 2010, simultaneamente ao exercício do mandato de deputado federal, o ministro pagava a governanta de sua residência com o dinheiro da Câmara dos Deputados, onde a mesma era contratada como secretária parlamentar, embora passasse o dia cozinhando e cuidando do apartamento funcional do então parlamentar. Em janeiro, quando Novais tornou-se ministro, a moça, Doralice, foi exonerada e imediatamente contratada por uma empresa terceirizada que recebe um milhão e meio de reais por ano para fornecer mão de obra para o Ministério do Turismo.
Não era tudo. No dia seguinte o mesmo jornal estampava a informação de que a mulher do deputado tinha um motorista particular, Adão, também servidor da Câmara, lotado no gabinete de um outro deputado do PMDB, desde que fora transferido do gabinete de Novais, quando este saiu do Legislativo para o Ministério. Ou seja, para quem tem como dar de presente à mulher um chofer full time remunerado com dinheiro público, é fácil, fácil ser perdoado por ela por conta de uma festinha à toa num motel para onde ela não foi convidada. E talvez isso explique porque todos os andamentos da Copa estejam tão atrasados. Os nomes públicos que poderiam fazer o processo deslanchar estão é exercendo sua criatividade para fazer com que servidores públicos como Adão e Doralice possam ser introduzidos em armações que lhes permitam o bom andamento da copa, não Mundial de Futebol, mas a doméstica, a extensão de suas cozinhas.
Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente no jornal A Tarde, Salvador/BA.
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